CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Morte violenta atingiu 579 pessoas nos últimos 5 anos em MT

Em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, 109 crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foram mortos de forma violenta, em Mato Grosso. A maioria dos casos (97) ocorreu na faixa etária dos 15 aos 19 anos e, os demais, dos 10 aos 14 anos (8), e do zero aos 4 anos (4). Entre 2016 e 2020, foram 579 mortes violentas intencionais envolvendo meninos e meninas em todo o Estado.

Além disso, 18 mortes de crianças e adolescentes dos 10 aos 19 anos registradas no ano passado foram decorrentes de intervenção policial (MDIP), representando 17,10% do total contabilizado no país. Dados como estes constam no “Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil”, lançado sexta-feira (22) pelo Unicef e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com uma análise inédita dos boletins de ocorrência das 27 unidades da Federação.

No Estado, um dos casos que ganharam repercussão nacional foi o da Isabele Ramos Guimarães, 14 anos, morta pela melhor amiga dela na noite do dia 12 de julho de 2020, em uma casa no condomínio de luxo Alphaville, em Cuiabá. Isabele foi baleada com um tiro no rosto pela adolescente, então com 15 anos, que praticava tiro esportivo junto com os irmãos e os pais. A atiradora foi condenada a três anos de internação por ato infracional análogo ao crime de homicídio doloso, quando há intenção de matar. Atualmente, ela cumpre a pena no Complexo Pomeri, na Capital.

O estudo foi desenvolvido com base nos registros de ocorrências de violência letal e violência sexual contra crianças e adolescentes de até 19 anos de idade. No país, entre 2016 e 2020, 35 mil crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foram mortos de forma violenta, uma média de 7 mil por ano. Além disso, de 2017 a 2020, 180 mil sofreram violência sexual, correspondendo uma média de 45 mil por ano. Em Mato Grosso, foram 1.454 crimes sexuais até 19 anos somente no ano passado.

E, os números revelam que a violência se dá de forma diferente de acordo com a idade da vítima. "A violência contra a criança acontece, principalmente, em casa. A violência contra adolescentes acontece na rua, com foco em meninos negros. Embora sejam fenômenos complementares e simultâneos, é crucial entendê-los também em suas diferenças, para desenhar políticas públicas efetivas de prevenção e resposta às violências", disse a representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer.

Diretora executiva do FBSP, Samira Bueno reforça, por meio da assessoria de imprensa, que a violência contra menores é um problema grave, que precisa ser cada vez mais discutido por nossa sociedade. “São vítimas dentro de suas próprias casas enquanto são pequenas e sofrem com a violência nas ruas quando chegam à pré-adolescência. O poder público precisa encarar a questão com seriedade e evitar que mais vidas sejam perdidas a cada ano”.

Entre outros dados, o levantamento mostra que em todas as idades, as principais vítimas de mortes violentas são os meninos negros. Esse perfil, no entanto, se intensifica ainda mais na adolescência. “Quando os adolescentes chegam à faixa etária de 15 a 19 anos, essa transição no perfil da violência letal está consolidada. As mortes violentas têm alvo específico: mais de 90% das vítimas são meninos, e 80% são negros”.

Para se ter ideia, em 2020, no total dos 27 estados, 5.282 crianças e adolescentes de 15 a 19 anos foram mortos de forma violenta no Brasil. Em Mato Grosso, em 2020, foram 97, representando 17,10%.

Diante de números como estes, os responsáveis pelo levantamento apontam a necessidade urgente de políticas capazes de prevenir e responder à violência. Entre elas, não banalizar a violência; enfrentamento desses crimes; denúncia por parte de toda pessoa que testemunhar, souber ou suspeitar de violências contra crianças e adolescentes, capacitação dos profissionais que atuam com crianças e adolescentes e responsabilização os autores das violências.

 

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