DESASTRE NO TELES PIRES

MPE aponta que estrutura da barragem da usina de Colíder está em risco

  

Um relatório do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) identificou falhas graves na Usina Hidrelétrica (UHE) Colíder, que opera no rio Teles Pires. O documento aponta que a barragem tem problemas em sua estrutura e que a usina está causando danos ambientais significativos, incluindo a morte de milhares de peixes.

Diante dos riscos, a própria empresa responsável, a Eletrobras, iniciou uma operação para baixar o nível de água do reservatório em agosto. O relatório, no entanto, destaca que essa ação também causou impactos ambientais. A estrutura da barragem está em risco.

Segundo a perícia, a barragem da usina Colíder apresenta falhas críticas. Foi constatado que vários dos drenos usados para controlar a pressão interna estão com problemas, o que gera uma erosão por dentro da estrutura. Este tipo de erosão, chamado "piping", é um dos principais motivos de falhas em barragens.

O relatório aponta que 18 drenos estavam com material sendo carregado para fora, 5 haviam se rompido e 3 foram bloqueados. A repetição desses problemas, em intervalos cada vez menores, confirma que a situação está piorando.

Desastre ambiental e histórico de prejuízos

O rebaixamento do reservatório causou a morte de peixes em poças isoladas, com calor intenso e pouco oxigênio. As equipes de resgate encontraram mais de 212 quilos de peixes mortos e salvaram outros 22 mil que ficaram presos nas áreas secas.

A tragédia não é nova. Entre 2014 e 2020, o mesmo relatório registrou pelo menos seis mortes de peixes ligadas às operações das usinas do rio Teles Pires. A UHE Colíder é responsável pela maior parte do prejuízo, que já soma mais de 89 mil quilos de peixes mortos.

Segundo a ecologista Luciana Ferraz, essa perda é tão grande que seria suficiente para fornecer peixe a mais de 2.600 pessoas por seis anos.

Perigo para a população e recomendações

O relatório também alerta para a segurança dos moradores da região. A área que deveria ser evacuada em caso de emergência (Zona de Autossalvamento) tem um sistema de alerta frágil. Além disso, a maioria das casas da região não recebeu a visita de equipes para comunicar os riscos.

Diante de todas as falhas, o relatório técnico recomenda que o governo estude a possibilidade de desativar ou descaracterizar a UHE Colíder. A falta de um estudo que aponte a origem dos problemas na barragem e a ausência de uma análise conjunta dos impactos de todas as usinas do rio Teles Pires reforçam a urgência da situação.

O procurador de Justiça Gerson Barbosa classificou o documento como "robusto" e destacou a necessidade de medidas preventivas e corretivas imediatas.

 

FOTO: REPRODUÇÃO