RIXA ENTRE PODERES

Moretti expõe crise e diz que presidente da Câmara atua para tirá-la do cargo

A prefeita de Várzea Grande, Flávia Moretti (PL), tornou pública a crise institucional entre o Executivo e o Legislativo municipal e apontou diretamente o presidente da Câmara, vereador Wanderley Cerqueira (MDB), como articulador de um movimento para retirá-la do cargo. A acusação foi feita em entrevista concedida à TV Vila Real, ontem (26), ao ser questionada sobre quem estaria por trás das tentativas de enfraquecimento de sua gestão.

Segundo a gestora, o vereador atua como liderança de um grupo insatisfeito com sua postura desde o período de transição de governo.

“Ele coordena isso. Ninguém joga sozinho, sempre tem um grupo, e ele é o líder. Desde o início, sempre quis mandar na prefeitura”, afirmou a prefeita, ao acusar também que o presidente da Câmara não atua de forma isolada.

A chefe do Executivo municipal relatou que o desgaste com Cerqueira começou ainda antes da posse, em janeiro de 2025, quando ela se recusou a atender pedidos para lotear secretarias entre aliados políticos. De acordo com ela, o principal foco de interesse do vereador era a Secretaria Municipal de Saúde. “Ele queria ser dono da secretaria, indicar secretário, e eu não aceitei. Desde então, o confronto existe”, declarou.

Flávia também acusou o parlamentar de integrar um “sistema” político que, segundo ela, tenta preservar práticas antigas na administração pública.

“Ele sabe que eu não entrei nesse sistema e que estou aqui para mudar a forma de governar. Isso incomoda”, disse, ao afirmar que há uma tentativa clara de retaliação política.

Possível cassação

As declarações ocorrem em meio à tramitação de uma Comissão Processante na Câmara Municipal que pode resultar na cassação do mandato da prefeita. O procedimento investiga uma denúncia de infração político-administrativa relacionada ao uso de slogan institucional em uniformes da rede municipal de ensino.

A representação foi apresentada pelo advogado Pedro Augusto Rodrigues Costa e aponta que os uniformes continham o slogan “Transparência, Trabalho e Progresso”, o que poderia caracterizar promoção pessoal e violação aos princípios da impessoalidade e moralidade administrativa.

A prefeita apresentou defesa dentro do prazo legal, alegando nulidades no processo, como falhas na sessão que recebeu a denúncia, ausência de tipificação clara da conduta e cerceamento do direito de defesa. No entanto, a Comissão Processante rejeitou os argumentos preliminares e decidiu dar continuidade às investigações.

Segundo o colegiado, não houve prejuízo à ampla defesa e a denúncia descreve elementos suficientes para o prosseguimento da apuração. A comissão também destacou que a própria defesa reconheceu a existência do slogan nos uniformes escolares, o que, na avaliação dos vereadores, comprova a materialidade mínima necessária para a investigação.

Como parte da instrução, foram determinadas diligências em unidades da rede municipal de ensino e solicitados documentos a diversas secretarias, incluindo contratos, processos licitatórios e comprovantes de pagamento. Também estão previstas oitivas da prefeita, de testemunhas indicadas pela defesa e de representantes da empresa responsável pelo fornecimento dos uniformes. A audiência de instrução está marcada para o dia 21 de janeiro de 2026.

Outro lado

A reportagem do Reporter MT tentou contato com o presidente da Câmara de Várzea Grande, Wanderley Cerqueira, para comentar as acusações feitas pela prefeita e esclarecer os fatos, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

 

FOTO: SECOM VG